Afinal, os telemóveis viciam ou não?
A pergunta tem preocupado a mente dos cientistas pelo menos desde o aparecimento do smartphone. Afinal, os telemóveis viciam ou não?
A jornalista norte-americana Catherine Price especializou-se no estudo de assuntos científicos e garantiu que os telemóveis produzem um efeito químico semelhante ao das drogas. A dopamina, que é o mesmo químico libertado através do uso de drogas como a heroína ou a cocaína, está associada ao uso do telemóvel. Um facto que pode ajudar a explicar por que é tão complicado parar de mexer no smartphone e simplesmente apreciar o momento.
Segundo Price, os nossos telemóveis não só libertam químicos que nos fazem sentir prazer como podem contribuir para o aparecimento de hormonas associadas ao stress e ao mau-estar. Estas hormonas, no entanto, são geradas nos momentos em que não estamos a usar o telemóvel. Um claro sinal de vício que mais uma vez pode ser comparado a drogas como a cocaína ou heroína (que incluem uma fase de recaída).
Apesar dos vários pontos em comum, Price acredita que a metáfora que melhor se adequa aos telemóveis é a das slot machines. Tal como acontece com as clássicas máquinas de jogos de casino, os smartphones estão propositadamente desenhados para gerar vício e estimular o uso. Uma estratégia que segundo Price tem as principais marcas tecnológicas do mundo como responsáveis e que está na base da nossa dependência tecnológica. A jornalista norte-americana apontou os nomes de marcas como a Apple e a Google, que possuem um número praticamente ilimitado de recursos e que estão interessadas em produzir telemóveis cada vez mais cativantes. Não é por acaso que quase todos os sites recolhem os dados dos seus utilizadores através do uso de cookies.
Existem vários estudos acerca do uso de telemóveis e do vício que estes possam causar, incluindo um estudo que aponta que 10% dos americanos consultam os seus telemóveis durante o sexo. A comunidade científica concorda que os smartphones viciam e podem gerar uma dependência real naqueles que os usam. Mas será que é possível simplesmente largar o telemóvel?
FOMO e ansiedade
Nada no desenvolvimento da nossa sociedade aponta para um futuro sem telemóveis. Pelo menos, não enquanto não existir uma forma mais eficiente de comunicação. De resto, todos concordamos que, factores de vício ou não, os telemóveis são essenciais. Muito mais do que uma forma rápida e barata de contactar qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo, os smartphones permitem-nos consultar a Internet a qualquer momento, pagar as contas de casa, comprar bens, criar arte, música e vídeos, e comunicar com milhões de potenciais clientes ou fãs. Que o smartphone é uma das grandes invenções da nossa era não existe dúvida; mas estaremos a levar as coisas longe demais?Catherine Price destaca que existem muitas pessoas que sentem ansiedade sempre que se separam dos seus telemóveis, mesmo que por um período limitado de tempo. Ficar longe do objecto que levámos para todo o lado é um factor de stress para muitos miúdos e graúdos, e o motivo pode estar relacionado com o FOMO. O FOMO (ou fear of missing out) é uma espécie de fobia motivada pelo advento das redes sociais e da intercomunicação pessoal. O medo de perder algo, seja uma festa, um filme, ou uma anedota de um amigo, leva muita gente a sondar de forma incansável os seus telemóveis. São coisas como o FOMO que nos ajudam a concluir que o vício dos telemóveis não é apenas químico, nem é apenas gerado pelas empresas capitalistas que os produzem. Ele é também motivado por uma sociedade em pleno movimento.
Usar a cabeça
A ciência, a sociedade, e as grandes marcas contribuem simultaneamente para a nossa dependência dos telemóveis. Mas será que não existe maneira de escapar a este inevitável fado? Estaremos condenados a passar horas e horas a investigar sem necessidade o conteúdo dos nossos smartphones, deixando que inúmeras situações sociais reais nos passem ao lado?Os perigos do vício não têm que nos fazer olhar de forma diferente para os nosso telemóveis, mas ajuda se utilizarmos o smartphone de forma lógica e ponderada. Antes de pegar no telemóvel, faça a si mesmo a seguinte pergunta: há alguma coisa que eu queira ou precise realmente de fazer neste preciso momento? Esta pequena regra pode ajudá-lo a evitar situações sociais desconfortáveis e a pousar mais vezes o telemóvel. Tal como os jogadores de poker, que estão envolvidos numa actividade extremamente aditiva, conseguem controlar os seus impulsos para jogar de forma lógica, consultado os seus poker stats e considerando pacientemente as suas jogadas, os utilizadores maníacos de telemóvel podem também encontrar descanso num solarengo passeio de Domingo à tarde ou numa sessão matinal de desporto. Afinal de contas, os telemóveis são como tudo: é importante saber avaliar o contexto em que nos encontramos e perceber até que ponto sacar do smartphone numa determinada situação é, ou não, relevante.
Sem comentários